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A relação entre a Rússia e a Ucrânia é marcada por uma longa história de dominação e resistência. Durante séculos, a Ucrânia esteve sob o domínio de potências estrangeiras, incluindo o Império Russo, que a incorporou em 1793. Mais tarde, a Ucrânia se tornou uma república soviética em 1922, sendo completamente integrada à União Soviética. A dissolução da União Soviética em 1991 deu à Ucrânia sua independência, mas não apagou os laços culturais, econômicos e políticos profundos que continuaram a ligar os dois países. Moscou sempre viu a Ucrânia como parte de sua esfera de influência, e essa visão moldou a política externa russa pós-soviética, buscando manter a Ucrânia dentro de sua órbita.
Desde a independência, a Rússia tem tentado influenciar os acontecimentos na Ucrânia, particularmente nas áreas de política interna e externa. A Rússia interveio repetidamente nos assuntos ucranianos, apoiando candidatos pró-Rússia em eleições e exercendo pressão econômica e militar para garantir que a Ucrânia permanecesse alinhada com Moscou. A relação entre os dois países tem sido caracterizada por uma luta constante entre a soberania ucraniana e os esforços russos para mantê-la sob controle, culminando em conflitos abertos, como a guerra em Donbass e a anexação da Crimeia.
A expansão da OTAN para leste após o colapso da União Soviética é uma das causas mais significativas do atual conflito entre Rússia e Ucrânia. A partir da década de 1990, a OTAN começou a admitir países do antigo bloco soviético, incluindo Polônia, Hungria e República Tcheca em 1999, e posteriormente outros países da Europa Oriental e Báltica. Esse movimento foi visto pela Rússia como uma ameaça direta à sua segurança. Para Moscou, a presença de forças da OTAN em países vizinhos representa um cerco estratégico que compromete sua capacidade de influenciar os eventos em seu próprio entorno.
A possibilidade de a Ucrânia aderir à OTAN foi particularmente alarmante para a Rússia. A Ucrânia, com sua longa fronteira compartilhada com a Rússia, foi vista como um tampão essencial contra o Ocidente. Em 2008, na cúpula da OTAN em Bucareste, foi prometido à Ucrânia que ela poderia eventualmente se tornar membro da aliança, uma promessa que exacerbou ainda mais as tensões. A Rússia respondeu com uma política agressiva para evitar que a Ucrânia se aproximasse do Ocidente, incluindo medidas militares, como a anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas no leste da Ucrânia.
A crise da Crimeia em 2014 foi um ponto de virada crucial no relacionamento entre a Ucrânia e a Rússia. Após a revolução ucraniana que derrubou o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych, a Rússia respondeu rapidamente com a anexação da Crimeia, uma península estrategicamente localizada no Mar Negro. Usando forças especiais sem insígnias, a Rússia ocupou rapidamente a Crimeia, justificando sua ação como uma proteção à população russa étnica que, segundo Moscou, estava em risco devido à nova liderança ucraniana. Em um referendo contestado internacionalmente, a Crimeia votou para se unir à Rússia, consolidando a anexação.
A anexação da Crimeia foi amplamente condenada pela comunidade internacional, que a considerou uma violação flagrante da soberania ucraniana e do direito internacional. A Ucrânia e a maioria dos países ocidentais nunca reconheceram a Crimeia como parte da Rússia. Esse movimento não só aumentou as tensões entre Rússia e Ucrânia, mas também levou a sanções econômicas e políticas contra a Rússia, aprofundando ainda mais o conflito. A Crimeia tornou-se um símbolo das ambições russas de reafirmar sua influência nas antigas repúblicas soviéticas.
Após a anexação da Crimeia, a guerra no Donbass emergiu como o próximo grande conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Em abril de 2014, grupos separatistas pró-Rússia nas regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, declararam independência da Ucrânia, dando início a um conflito armado com as forças governamentais ucranianas. A Rússia, embora negasse envolvimento direto, foi acusada de apoiar os separatistas com armas, treinamento e até tropas regulares disfarçadas, alimentando a guerra que se prolongou por anos.
O conflito no Donbass resultou em milhares de mortos e um grande número de deslocados internos. A guerra também serviu para congelar as relações entre a Ucrânia e a Rússia, enquanto Kiev se voltava ainda mais para o Ocidente em busca de apoio. Apesar de vários acordos de cessar-fogo, como o Protocolo de Minsk, a situação permaneceu instável, com confrontos esporádicos continuando até a invasão russa em 2022. O Donbass tornou-se um ponto de fratura crucial, simbolizando a luta pela identidade e direção futura da Ucrânia.
A Ucrânia tem buscado uma maior integração com a Europa Ocidental, especialmente desde a Revolução Laranja em 2004, que trouxe ao poder líderes pró-ocidentais. Essas aspirações foram vistas como uma ameaça direta pela Rússia, que via a aproximação da Ucrânia com a União Europeia e a OTAN como uma perda de sua influência na região. A assinatura do Acordo de Associação com a União Europeia em 2014 foi um passo decisivo para Kiev, mas também provocou uma reação violenta de Moscou, que se opôs fortemente à mudança do equilíbrio geopolítico na região.
O desejo da Ucrânia de se integrar à Europa não foi apenas uma questão de política externa, mas também um reflexo do desejo popular por reformas democráticas e econômicas. No entanto, a resistência russa e a dependência econômica da Ucrânia em relação à Rússia complicaram essa trajetória. O conflito resultante entre as aspirações europeias da Ucrânia e os interesses estratégicos da Rússia levou a uma divisão profunda dentro do país e a uma escalada do conflito que culminou na guerra em 2022.
O nacionalismo russo e as ambições de Vladimir Putin desempenham um papel central na atual guerra. Putin vê a Ucrânia não apenas como um país vizinho, mas como parte integrante da história e cultura russas. Ele frequentemente se refere à Ucrânia como "Malorossiya" (Pequena Rússia), um termo que nega a legitimidade da Ucrânia como nação independente. Putin também expressou repetidamente seu desejo de restaurar a grandeza da Rússia, e a reincorporação da Ucrânia é vista como um passo crucial nessa visão.
As ambições de Putin vão além da simples anexação de territórios; elas envolvem a criação de uma esfera de influência russa que inclui todas as ex-repúblicas soviéticas. Essa visão tem sido impulsionada por uma retórica nacionalista que glorifica o passado imperial russo e demoniza o Ocidente como uma força corruptora. Para Putin, a guerra na Ucrânia é uma luta existencial para preservar a Rússia como uma potência global e resistir ao que ele vê como a expansão agressiva do Ocidente.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia também é alimentada por questões econômicas e de segurança. A Ucrânia é uma rota vital para a exportação de gás natural russo para a Europa, e a Rússia tem usado essa dependência como uma ferramenta de influência política. O controle das rotas de energia é crucial para a Rússia, que depende das exportações de energia para sustentar sua economia e financiar seu complexo militar-industrial. Além disso, a Ucrânia possui recursos naturais importantes, como carvão e terras agrícolas férteis, que são economicamente significativos.
A questão da segurança é igualmente crítica. A Ucrânia é vista pela Rússia como uma zona-tampão contra a OTAN e outras influências ocidentais. Moscou teme que uma Ucrânia ocidentalizada e armada pelos Estados Unidos e seus aliados possa se tornar uma base avançada para operações militares contra a Rússia. Essa preocupação com a segurança levou a Rússia a adotar uma postura militar mais agressiva na região, culminando na invasão de 2022 como uma tentativa de garantir o controle sobre o que considera ser uma zona de influência essencial.
Antes da invasão de 2022, a Rússia concentrou um número significativo de tropas ao longo da fronteira com a Ucrânia, o que foi amplamente visto como um prelúdio para a guerra. Ao mesmo tempo, a propaganda estatal russa intensificou a narrativa de que a Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, estava ameaçando a segurança russa. A mídia controlada pelo Estado desempenhou um papel crucial na mobilização do apoio público à guerra, retratando os ucranianos como nazistas e o governo ucraniano como ilegítimo e corrupto.
Essa campanha de propaganda também foi usada para justificar a invasão como uma operação necessária para "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia. A manipulação da informação foi uma ferramenta poderosa para moldar a opinião pública na Rússia e deslegitimar qualquer oposição à guerra. Além disso, a propaganda estatal foi usada para criar um inimigo externo, caracterizando a Ucrânia como uma marionete do Ocidente e um campo de batalha na luta entre a Rússia e as potências ocidentais. Essa narrativa ajudou a consolidar o apoio interno à guerra, ao mesmo tempo que marginalizou e reprimiu qualquer dissidência dentro da Rússia. A mídia russa, controlada pelo Estado, desempenhou um papel crucial em perpetuar essas mensagens, apresentando a invasão como uma medida defensiva contra uma ameaça existencial, o que também facilitou a aceitação das sanções internacionais como um sacrifício necessário para proteger a soberania russa. Além disso, o governo utilizou essa propaganda para justificar a prolongada duração do conflito, retratando-o como uma luta justa e necessária para restaurar a grandeza da Rússia e proteger seus interesses estratégicos.